Esvaziei as três gavetas do criado-mudo no chão. De vez em quando tenho esses rompantes, mesmo tarde da noite. E não consigo dormir sem arrumar tudo. Minha mãe diz que puxei esse lado freak da minha bisavó. Eu era pequena demais para lembrar, mas penso nela toda vez que resolvo faxinar.
Relógios parados no tempo, pares de óculos, um deles com a haste torta, dois passaportes vencidos, Tiger Balm, camisinhas, fita métrica, iPod, fones com as borrachinhas ressecadas, plaquinha pra bruxismo, melatonina, creme para pés ressecados, hidratante para as mão, fotos de um ex-namorado de quando éramos felizes, agenda de telefone, uma lâmpada vermelha. Uma lâm-pa-da ver-me-lha. E uma infinidade de coisas que eu nem sabia que estavam ali, e de outras que não serviam para nada.
Não sei por que guardamos tanta coisa. Não sei por que fazemos isso com tudo. A gente insiste em manter em nossas vidas coisas que não têm mais o menor sentido e com isso não damos espaço para que as novas cheguem e ocupem o lugar. Não tem lugar. Nos cercamos do velho, do conhecido, do confortável. Ninguém mexe. Ninguém tasca.
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Faxina na vida