O poder do hábito

lista de pendências

– Bom dia, como vai o senhor?
– Estou ótimo, melhor do que mereço. E você?

A conversa acima aconteceu sábado, dentro de um Uber. Eu estava a caminho do velório do pai de uma amiga. Dei aquela resposta automática, “estou ótima também”, mas comecei a pensar no quanto aquilo era verdade, principalmente naquele momento.

Minha amiga acabara de perder o pai. Não consigo imaginar muitas coisas mais difíceis do que a morte. Pensei em todo sofrimento dela. E tive vontade de dizer ao motorista que, na verdade, estou muito melhor do que mereço, mesmo que não me dê conta disso.

Meus pais estão cheios de saúde, faço o que gosto, moro numa casa do jeito que sempre quis, casei com um cara muito melhor do que eu, os boletos estão em dia.

Ainda falta? Sim. Mas absolutamente nada que possa me fazer sentir infeliz e mesmo assim me pego insatisfeita muitas vezes ao dia.

A gente foca no que nos falta. Fazemos lista para tudo e nos enchemos de cobranças nem sempre necessárias. Estou cheia de coisas pra fazer esta semana, mas hoje, quando acordei, fiz uma lista diferente. Escrevi tudo que fiz no final de semana:

– Jantei com amigos
– Levei conforto a uma amiga quando ela precisou – e não apenas quando eu podia.
– Comi feijoada, porque não acredito que toda a carne no Brasil esteja condenada. E sobrevivi.
– Dei uma cochilada deliciosa no fim do dia
– Fiz um FaceTime com o marido, que está viajando
– Vi Hidden Figures, que em português tem o ridículo nome de Estrelas Além do Tempo. Apesar de o filme ser leve, trata de 200 tipos de preconceitos de uma vez só. Gostei muito.
– Pedi pizza e tomei vinho.
– Dormi tarde.
– Acordei cedo.
– Passei o dia organizando algumas coisas em casa. Eu fico feliz de arrumar a casa mesmo num domingo
– Fiz um FaceTime com o boy
– Li mais um pouco de O Poder do Hábito, um livro fascinante sobre o funcionamento do cérebro e a formação de nossos hábitos, claro.
– Fiz outro FaceTime
– Vi um pouco do noticiário, li jornal.
– Postei uma coisinha só no Facebook. Comentei alguns posts.
– Comi a sobra do meu almoço de sexta
– Li mais um pouco.
– Brinquei com o gato.
– Acabou o domingo.

Quando terminei a lista, percebi que não fiz nada de espetacular, mas entendi o que o motorista do Uber quis dizer. A vida não precisa ser espetacular, apenas boa. No fundo é isso, a maioria de nós está melhor do que merece e nem se dá conta disso.

Boa semana, pessoas.

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Quem gosta de tapa é lutador de MMA, mulher gosta de romance

 

chicoter

Se você tem namorada, mulher, irmã, mãe, amigas, colegas de trabalho, sabe que o assunto de fevereiro foi a estreia de Cinquenta Tons Mais Escuros, a segunda parte da trilogia soft pornô que já lotou os cinemas no primeiro filme e vendeu mais de 100 milhões de livros.

Fica a impressão que da noite para o dia a pergunta que vale um milhão finalmente tem resposta. Afinal, o que as mulheres querem na cama? Pelo frenesi causado, parece simples: ser amarrada, amordaçada, vendada e levar uns petelecos, enquanto transa. Tudo, claro, em comum acordo com o parceiro.

Mas não foi dessa vez. A ideia de que um batalhão de mulheres tenha se descoberto adepto de chicotes, algemas e quartinhos escuros é simplista demais – além de estapafúrdia – para explicar o que de tão fascinante o senhor Grey, o mocinho meio bandido do filme, faz para deixar mocinhas de todas as idades tão umedecidas.

Sexo, ainda bem, é um dos terrenos mais férteis da criatividade e da loucura humana, e as barreiras continuam a ser derrubadas todos os dias. Tem quem goste de transar com mais de um parceiro, adeptos de golden shower ou da modalidade tão renegada pelos homens, que eu chamo de “uma dedada não dói”.

Até mesmo o mundo sadomasoquista já saiu do escuro faz tempo. Há quem bata ponto em festinhas marcadas pelo Facebook. Mas vamos encarar a realidade, um número enorme de mulheres nunca teve um único orgasmo nem com sexo limpinho e previsível. Dá para acreditar que haja tantas assim mergulhando nas trevas da sacanagem? Não. Quem gosta de tapa é lutador de MMA, mulher gosta é de romance.

O senhor Grey é rico, bonito, inteligente, tem o abdômen trincado e a capacidade de fazer a mocinha gozar só com um tapinha no clitóris. Um talento, levando em conta que tem homem que não sabe nem onde esse botãozinho mágico fica. Mas não é a promessa de uma trepada inesquecível o que faz todas as mulheres parecerem tão afoitas para se envolver com alguém que seduz por meio de força, agressão física e moral.

Pode guardar o chicotinho, a sunga de couro e a máscara do Zorro. Pode deixar na estante o livro do Kamasutra. O que o senhor Grey oferece de sobra em meio a tanta fantasia não são apenas orgasmos múltiplos, mas doses cavalares de algo que falta antes e depois de uma transa: romance. E não tem nada mais eficiente para seduzir e levar uma mulher para a cama – ou para o quartinho de tortura – do que isso.

Na vida real a maioria das mulheres ficaria feliz em gozar, dormir de conchinha e receber uma mensagem no dia seguinte. Mas a reclamação das moçoilas é a de sempre: falta macheza nos moços para demonstrar ternura. Por isso os suspiros se voltam para um personagem. É verdade que Grey mora num apartamento de revista, é CEO de sua própria empresa e tem a cabeça cheia de problemas. Que mulher não gosta de um homem perturbado para chamar de seu e tentar consertar?

Mas o moço tem muito mais. Entre um tapinha na bunda aqui e um abuso psicológico acolá, ele cria muitas situações românticas e sedutoras, compra carro novo, escolhe roupas para a mocinha, paga suas contas, faz com que ela se sinta a mulher mais amada e desejada no quarteirão, protege a fofa das maldades da vida, menos das dele mesmo, claro.

Isso não significa que a questão seja dinheiro, ainda que seja preferível sofrer numa cobertura do que num quarto e sala. Mensagens carinhosas, presentinhos inesperados, flores sem motivo, jantarzinho romântico, um “papai&mamãe” olhando nos olhos, podem ser igualmente eficientes. Na ficção ou na vida real, com muito romantismo, você terá uma mulher de quatro para você. Ou por cima. Ou por baixo. De ladinho. Talvez ela até curta uns tapinhas. Mas isso é detalhe.

Publicado na GQ Brasil, em fevereiro de 2017

 

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Sincericídio sexual

sincericidio sexual

Fala sério, você nunca viu um pau deste tamanho.” Acredite ou não isso foi dito a uma amiga, na primeira vez em que ela e esse moço cheio de autoestima tinham ido para a cama.

Veja só como é a vida. Eu vivo dizendo que a comunicação verbal é importante na hora do sexo para a maioria das mulheres. A gente quer saber se está agradando, mas só isso. Não é uma hora apropriada para dividir suas neuras, seu ego ou sua falta de educação. Guarde para o psicólogo ou para seus amigos.

Certa vez, eu lá no bem-bom, o fulano vira e fala: “Minha ex adorava quando eu fazia isso”. Que ex, meu amigo? Isso não é hora de falar de outra mulher. Muito menos de outra que até pouco tempo estava ali, provavelmente na mesma posição. De repente, me senti num ménage com uma fantasma.

Ex é um assunto delicado. Se você tem a necessidade de falar de seu passado, sem problema. Todo mundo tem um. Mas não seja ingênuo de achar que pode fazer comparações entre sua ex e a garota que você está comendo, ainda mais se for exatamente nessa hora.

Ouvi de várias amigas que muitos caras cometem esse tipo de sincericídio, mesmo que seja para dizer que a ex era mais gorda, menos bonita, não sabia fazer boquete. Ninguém quer se sentir numa competição.

Nem com a ex e muito menos com a mãe. “Você me lembra a minha mãe”, disse um cara para uma amiga no meio da transa. Pouco importa se você ama ou odeia sua progenitora. Lembrar da mãe num momento desse não pode ser boa coisa, é caso de psicanálise.
Uma reclamação clássica de muitas mulheres é em relação ao tipo de homem que goza e começa a perguntar: “Você já gozou?”. Amigo, certamente você notaria um orgasmo de um jeito ou de outro. Essa pressão desnecessária só vai trazer frustração aos dois lados e talvez fazer com que a garota finja para resolver logo a questão.

Se você cansou, se está arregando e acha que não vai dar conta, que tal encontrar outra forma de deixar a moça tão satisfeita quanto você? Não dá para fazer corpo mole nessas horas. Quer dizer, mais ou menos.

Também não é o momento de tecer comentários sobre idade e peso. “Você é gostosa, mas poderia emagrecer dois quilos”, “você é muito magra, deveria engordar um pouco”, “eu gosto de gordinhas”, “não se preocupe, também estou gordo”. Todas essas frases foram ditas a mulheres que conheço. Nenhuma gostou.

Não deveria ser novidade que esse tipo de assunto não termina bem. Tudo que a gente não precisa no momento em que estamos ali em sua frente, peladas, totalmente vulneráveis, é que você fale sobre algo que nos deixa ainda mais vulneráveis: nosso corpo e nosso peso. Dizer que gosta de gordinhas não é um elogio. Você está chamando de gorda uma mulher que talvez nem se veja dessa forma.

“Tão novinha e já sabe chupar gostoso” ou “tenho que parar de pegar garotinha, com mulher mais velha a gente não tem que ensinar as coisas”. Talvez não precise ensinar, mas aprender que esse tipo de comentário pode ser guardado para você ou para a mesa do bar com seus amigos.

E para completar, tem a categoria “sem noção”. Algumas garotas já ouviram as seguintes frases: “Estava tão bom que peidei”, “chupa meus peitinhos que vou te amamentar”, “me chama de papai”.

Nada contra as bizarrices do sexo. Cada um com suas taras. Mas vamos combinar o seguinte: algumas coisas dificilmente vão fazer sucesso se o sexo for casual. Você vai virar piada no dia seguinte nos grupos de WhatsApp. E falta de educação, nem com 20 anos de casado.

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2017 e ainda tem homem com nojinho de fazer sexo oral

nojinho

A primeira vez que comi sushi, lembro bem, foi uma das piores experiências da vida. Aquela coisa fria, inerte, com uma textura esquisita, sem falar no cheiro, ainda que discreto, de peixe cru. Detestei. Hoje, é uma das minhas comidas prediletas.

Conto isso porque fazer sexo oral é a mesma coisa. Acho difícil alguém dizer que achou o troço mais espetacular do mundo lamber as partes íntimas de uma pessoa. É natural que haja estranhamento. O que não é natural é gente sexualmente ativa que continua não gostando, não curtindo e, pior, não fazendo. E essa é uma das maiores reclamações das mulheres: homens que são mestres em dar um perdido e pular essa parte da brincadeira, sem mais nem menos.

Tem gente que acha tratar-se de um fenômeno dessa geração “leite com pera”, de meninos que fazem a sobrancelha, depilam o peito e tomam banho antes de transar, mas infelizmente a reclamação é antiga: muitos homens não gostam de fazer sexo oral. E não são poucos: 43% sentem-se “incomodados”. Como notícia ruim nunca vem sozinha, quatro em cada 10 caras simplesmente não se preocupam em retribuir o agrado à parceira. Que egoísmo.

Você pode achar que a moça não notou que ficou no vácuo, mas pode ter certeza de que ela percebeu, não esqueceu, anotou no caderninho e ainda contou para todas as amigas, entre um gole e outro de cerveja: aquele lá não gosta de buceta.

Primeiro, vamos à gravidade do problema: é nível altíssimo. Vocês já sabem que na vagina fica uma coisinha chamada clitóris, ignorada mesmo pela medicina até há pouco tempo. Acontece que aquele botãozinho é a única parte do corpo humano que tem como função única e exclusiva o prazer sexual. Só serve para isso, para mais nada. Imagine só.

O clitóris se enche de sangue e dobra de tamanho quando a mulher fica excitada. Na ponta da extremidade há uma confluência de oito mil terminações nervosas. Para você ter uma ideia, o seu pinto, que você acha que a coisa mais sensível do mundo, tem entre quatro e seis mil.

Por isso não dá para chegar, chegando, enfiando a mão. Por isso, a língua e a boca são perfeitos para explorar essa miniturbina sexual que as mulheres têm entre as pernas. Quanto mais você se dedica a essa parte da transa, mais a mocinha ficará excitada, molhada e perto de chegar ao orgasmo. Tem mais, quando a mulher goza, essa musculatura não relaxa imediatamente e essa é uma das razões que faz com que algumas tenham múltiplos orgasmos, se continuarem sendo estimuladas.

Imagine o que você pode estar perdendo. Ahh, mas eu uso as mãos. Não é a mesma coisa. A boca é quente, molhada e ainda vem com a língua que, bem treinada, faz toda tipo de malabarismo, que os dedos são incapazes.

Você já pode saber de tudo isso, mas ainda continuar cheio de neuras. Os motivos alegados entre os moços são quase engraçados. Medo de contrair DST, questões religiosas, falta de confiança na parceira. Tudo mentira, a gente sabe que vocês têm nojinho. Apenas alguns poucos admitiram, mas a realidade é essa, o problema tem a ver com gosto, cheiro e aparência da periquita. Engraçado que sexo anal todo mundo quer.

Vagina tem uma quantidade sem fim de formatos, como os pintos. Aquelas bucetinhas bonitinhas, depiladas, fechadinhas como botões de rosa, que você se acostumou a ver em revistas de mulher pelada, são quase todas filhas de Photoshop. E só ajudaram a deixar cada uma de nós acreditando que só a nossa é feia, esquisita e cabeluda.

Sobre o cheiro e sabor voltamos ao começo do texto. Tudo é uma questão de costume, ainda que eles variem de moça para a moça. Alguns homens dizem que o aroma de uma periquita saudável e bem cuidada é afrodisíaco. No Japão, vendem-se calcinhas usadas, em pacotinhos. Ninguém precisa chegar a esse nível de perversão. Mas um bom começo é dar uma segunda chance, uma terceira, uma quarta. Um dia, sem se dar conta, você estará se deliciando no meio das pernas das moças e elas vão dar o troco com gosto.

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A vida não é (ou não deveria ser) filme pornô

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Eu achava que ele só queria causar uma boa primeira impressão, mostrar habilidades. Mas lá pela terceira vez comecei a me incomodar com o que parecia uma maratona sexual. O repertório era vasto.

Tinha a sensação de que ele contava os movimentos, como numa ginástica aeróbica, antes de passar para a posição número sete. Quando eu começava a ficar animada, lá vinha o próximo contorcionismo. Porque não basta variar, tem que fazer a coreografia todinha do Cirque Du Soleil.

E ainda tinha o gran finale, acompanhado de grunhidos e urrinhos. No dia em que ele brincou de mangueirinha, espalhando esperma para todo lado, eu broxei, enquanto desviava e segurava a risada. Desisti antes que ele começasse a dar soquinhos no ar ou batesse no peito, tipo Tarzan.

É divertido, pode parecer excitante, as estrelas de filmes pornôs têm cara de que realmente gostam de toda aquela ação, mas a vida não é filme, e se tem um gênero que não tem nada a ver com a realidade é o de sacanagem.

Talvez você não faça o tipo contorcionista, mas não se dá conta de que filmes pornô acabam tendo influências nas expectativas que você leva para cama e no jeito que transa com alguém.

Para começar, encare a realidade. Mulheres comuns estão a léguas de distância das atrizes desse tipo de filme. Além de serem sempre magras e peitudas, elas não têm um único pelo no corpo a não ser na cabeça. “Meu namorado viciou na brazilian wax (tudo raspado) e quem sofre sou eu”, reclama uma amiga. “Ele diz que fica mais bonito.” Desde quando precisa ser bonito?

As moças do entretenimento também estão sempre animadas, sempre molhadas e sempre dispostas a tudo, mesmo com preliminares um tanto subestimadas e às vezes meio agressivas. Em 30 segundos de sexo oral a garota sempre tem um orgasmo – o primeiro de muitos. Na vida real, dá um trabalhão achar o clitóris, estimular a coisinha o tempo todo no lugar certo, sem que a parceira pareça um flanelinha: “mais para a direita, mais para a esquerda, mais rápido, meeeeenos…”

Você pode sentir o maior orgulho do seu pinto, mas não espere uma salva de palmas quando ficar pelado com uma ereção. No pornô quanto maior, melhor. A atriz olha e fala “nossa, como você é enorme, como você é grosso”. Pinto enorme e muito grosso não faz tanto sucesso com a maioria das mulheres. Sem falar que você corre o risco de encontrar alguém que não ache essa Coca-Cola toda. Sem falar que essa exibição não é excitante, é constrangedora.

Há várias outras coisas que parecem não apenas simples como prazerosas quando assistimos a um pornô.  Sexo anal, por exemplo. Atrizes fazem cara de quem ganhou um cartão de crédito ilimitado, quando na realidade tem mulher que não faria nem se fosse paga. Pode chamar de frescura, mas muitas não estão interessadas. Apenas uma em cada três vão experimentar sexo anal na vida e a maioria delas não repetirá a dose.

Outra fixação que muitos homens parecem ter, comum em qualquer filminho de sacanagem, é o momento do orgasmo. “Todos os caras com quem me relacionei vez ou outra pediam para gozar no meu rosto. Não sei qual é a graça”, disse uma leitora. A graça, segundo os especialistas, é a sensação de poder que o homem sente. Alguns compram motos barulhentas, outros querem gozar na cara das moças. Sugiro um psicólogo.

Para finalizar, um clássico dos pornôs e nas melhores casas de família, sexo oral com direito a “garganta profunda”. É divertido, desde que você não se empolgue, arranque os cabelos e quase mate a moça engasgada.

Eu sei, nem sempre é fácil achar equilíbrio entre o que você quer e o que as mulheres esperam. Lembre-se de que o gênero de filme que mais faz sucesso entre a maioria das meninas são as comédias românticas. Misture uma dose delas com um tanto de sacanagem e você certamente terá um enredo de sucesso.

 

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